Post do Leitor #4 – The Giver

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Texto escrito por Douglas Ookami.

The Giver (O Doador de Memórias, título brasileiro) é um filme estadunidense de 2014, dirigido por Phillip Noyce, que é uma adaptação do primeiro livro (The Giver) de uma série composta por quatro livros (O Quarteto O Doador) criada por Lois Lowry. O primeiro livro ganhou a Medalha Newberry , um prêmio muito prestigiado na literatura infanto-juvenil norte-americana. The Giver, conta a história de Jonas, um pré-adolescente, que após concluir uma “escola preparatória”, é selecionado para ser o “Receptor de Memórias” que tem como missão portar todas as memórias boas e ruins do passado da antiga sociedade. Jonas, após novas descobertas, acaba entrando em conflito com o sistema utópico daquela sociedade e se vê em meio a uma distopia.

A história de The Giver possui um universo muito interessante e podemos dividir o enredo em duas partes para entender aquele universo com mais facilidade. A primeira parte abrangeria como era a antiga sociedade, a atual e o protagonista até o momento que ele se depara com as memórias negativas; a segunda seria o conflito entre o protagonista com a falsa utopia e a ação dele. No que é nos apresentado na primeira parte, a antiga sociedade era composta por coisas boas e coisas ruins: amor, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, preconceito, etc. Ou seja, a nossa sociedade atual. Já a nova sociedade ali criada, seria uma desconstrução a partir das emoções, sentimentos. E esse motivo, é mostrado em meio aos conflitos. O Jonas, ao ir recebendo as memórias boas, ele começa a perceber que o antigo mundo tinha coisas boas também. Ele começa a se questionar.

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No entanto, por causa da sua própria “fome por memórias”, ele quer receber tudo e por causa de um pesadelo que o seu tutor teve, ele acaba sendo apresentado as memórias ruins {que seria uma cena bem legal se não estivesse filme}. A partir disso, ele começa a se questionar sobre a razão das pessoas cometerem tais atos. Ao receber tanto as memórias ruins como as boas, ele se questiona do porquê de aquilo ter sumido naquela sociedade e, embora com alguns problemas técnicos durante o desenvolvimento de seu pensamento, ele descobre que aquela sociedade tinha uma falsa harmonia e decide mudar isso. Até este momento, a história estava com um bom andamento, porém….

O desenrolar do roteiro estava um tanto coerente, porém começou a apresentar problemas a partir do fechamento do desenvolvimento do protagonista. Depois que ele recebe as memórias ruins e descobre como os Conselheiros (seria, mais ou menos, a estrutura que mantém aquela sociedade estabilizada) inibiam as emoções, não há um momento em que ele chega a pensar nas memórias ruins. Ou seja, a história o faz focar só nas memórias boas e as ruins são esquecidas e sua motivação acaba perdendo peso. Em consequência disso, ele começa a revolução dele. Bem… a partir desse momento que ele decide tomar a ação de fazer as pessoas recuperarem todas as emoções, o filme começa a desandar.

Basicamente, o modo de fazer as pessoas voltarem a receber as emoções, virou algo mágico, sem lógica e sem explicação. Pareceu que o diretor do filme quis encurtar a história para diminuir os gastos. E isso afetou drasticamente o grande clímax do filme. O motivo de o Jonas tomar essa decisão, até foi bem aceitável: ele viu seu pai tirando a vida de um bebê (sem ele saber o que estava fazendo) {embora haja uma razão biológica nisso, mas okay} e para evitar a morte de outro bebê que estava na lista, ele o sequestra e foge para fora da Orla. A revolução dele apresentou, além de problemas de roteiro, problemas de direção. A jornada para fora daquela região, era para ter causado um contraste entre o universo da distopia (um ambiente onde tudo era simétrico, as pessoas se vestiam praticamente iguais e, o mais interessante, as pessoas não conseguiam falar direito quando se tratava de demonstrar uma emoção) e um impacto para o personagem. Mas, simplesmente, o protagonista… perambulou por diversos biomas em poucas horas {parecia Minecraft}. A cena final do filme foi outra parte problemática. O Jonas, após ultrapassar a barreira, se depara com uma casa no meio de uma floresta coberta pela neve…. isso foi uma cena que não significou, aparentemente, nada. Embora tenha deixado subentendido que ele encontrou a antiga Receptora (que havia sido expulsada da Orla, em função de ter sido “corrompida”).

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A direção do filme e a atuação do ator do Jonas (Brenton Thwaites) também contribuíram para corroborar com a história. Como já citado, a jornada apresentou problemas na direção: o protagonista saltando a uma altura de, aparentemente, mais de 100m, com uma bicicleta e um bebê no colo e ter sobrevivido; ter percorrido vários biomas em poucas horas; e os dois (Jonas e o bebê) terem aguentado percorrer desertos e aquela floresta coberta por neve, sem ter sofrido nada. Já a parte da atuação foi algo que afetou diretamente o protagonista. A atuação dele parecia um “anti desenvolvimento”. O ator não conseguiu passar a sensação de que o personagem havia passado por dificuldades, ter sofrido e de ter levado um “tapa na cara” quando descobriu a distopia. Isso foi outra coisa que prejudicou o roteiro. Ou seja, o personagem parecia que nem os personagens da utopia, robôs, sem expressão. O que vai completamente contra a motivação do plot do protagonista.

Bem… The Giver era um filme que tinha tudo para ser muito bom, mas acabou por ser uma obra mediana em consequência de erros de direção e atuação. Acredito que a adaptação do livro foi mal feita, já que, considerando que o livro é bem prestigiado nos EUA, deve ser uma boa obra. Embora este filme apresente erros, eu gostei de certas coisas. Tirando toda a ideia do filme, particularmente, gostei de duas cenas: a parte em que o Jonas entra no sonho de seu tutor e se vê em uma cena de guerra (Vietnã, possivelmente), onde crianças e adultos trocam tiros e para Jonas se defender, acaba matando uma criança a tiros. Isso seria algo muito pesado para alguém que estava começando a ter emoções e ter consciência das coisas. Mas a atuação prejudicou esse momento. Outra coisa que achei bem interessante foi que, ao decorrer que o Jonas ia tendo emoções e catalogando: “isso é bom e isso é ruim”, o cenário (que no início do filme era em preto e branco), ia ganhando cores. Em consequência disso, teve a cena em que a Orla começa ganhar cores. Mas essas coisas legais acabaram perdendo sentido no fim. The Giver, que nem o filme de In Time (O preço do Amanhã), é um filme que vale a pena ver, só para curtir a ideia {e pensar em como consertar aquele filme} e refletir. E uma coisa que me deixou cheio de perguntas: qual o motivo de existir o Receptor de Memórias? Acho que só vou encontrar essa reposta, lendo os livros mesmo.

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